A RECEÇÃO INTERNACIONAL
DA OBRA LITERÁRIA DE JOSÉ SARAMAGO
Segunda conferência do ciclo de Conferências itinerantes – Centenário de José Saramago
“Escrevo para compreender”
(Barcelona – Sófia – Vigo – Roma, 2022)
Cátedra José Saramago e Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos
Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas da Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski
Resumos e notas biográficas
Conferência plenária
Carlos REIS
A internacionalização da obra de José Saramago. Disseminação, legado e posteridade
RESUMO
A conferência “A internacionalização da obra de José Saramago. Disseminação, legado e posteridade” desenvolve-se a partir de três conceitos estruturantes, ilustrados por testemunhos provindos não só do autor, mas também da sua fortuna crítica. A noção de disseminação reporta-se à capacidade de expansão de novos sentidos, funcionalidades críticas e campos de análise (p. ex., com base na constituição do espólio do autor); o conceito de legado refere-se à transmissão à comunidade da produção literária saramaguiana, em função de diferentes fatores de configuração do referido legado; o conceito de posteridade conjuga-se com a dinâmica transcultural que caracteriza a obra de Saramago, uma dinâmica que se apoia em práticas como a tradução e no seu potencial de internacionalização.
NOTA BIOGRÁFICA
Carlos Reis é professor catedrático jubilado da Universidade de Coimbra. Autor de mais de trinta livros (último em data de publicação: Dicionário de Estudos Narrativos, 2018), vários deles sobre temática queirosiana. Ensinou em universidades da Europa, dos Estados Unidos e do Brasil. Dirige a Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós (vinte volumes publicados) e coordenou a História Crítica da Literatura Portuguesa (nove volumes). Foi diretor da Biblioteca Nacional, reitor da Universidade Aberta e presidente da Associação Internacional de Lusitanistas e da European Association of Distance Teaching Universities. Foi distinguido com os prémios Jacinto do Prado Coelho (1996), Eduardo Lourenço (2019) e Vergílio Ferreira (2020). É doutor honoris causa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Presentemente desempenha as funções de comissário para o Centenário de José Saramago.
Comunicações
Nada el AHIB
Interpretação do leitor árabe da tradução da obra Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago
RESUMO
Entre escuridão e luz está a brancura que José Saramago conseguiu descrever com minuciosidade. Imaginar toda uma cidade cega é quase impossível, mas coincidir na cegueira e manifestar diferentes atitudes conforme à natureza humana de cada ser é o mais impressionante neste ensaio. A tradução deste ensaio permitiu ao leitor árabe descobrir um dos autores lusos que marcaram o século passado. Através deste utensílio, conseguimos desfrutar de uma cultura diferente da nossa mesmo que esteja próxima geograficamente falando. Apesar de algumas cenas serem violentas ou chocantes, o ensaísta manifestou uma visão moderna do ser humano num mundo acelerado onde os interesses individuais são primordiais e que não há nada mais caro do que a vida. A resistência dos protagonistas no manicómio e a insistência em manter a vida sã, junto com os conflitos ocorridos entre eles descrevem uma certa animalidade e ferocidade ou bondade escondida no interior de cada um. Egoísmo, sacrifício, vontade e esperança são conceitos muito bem encarnados por parte dos protagonistas.
NOTA BIOGRÁFICA
A Professora Nada el Ahib, de nacionalidade marroquina, é doutorada em didática de português para estrangeiros, título obtido em 2013. É Professora Associada permanente no Instituto Universitário de Estudos Africanos, Euromediterrâneos e Iberoamericanos e professora de Literatura Portuguesa e Brasileira na Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade Mohammed V-RABAT (MARROCOS) desde 2013. É também investigadora nas áreas das Literaturas Lusófonas, Tradução, Didática da Leitura, Semiótica do Discurso e da Imagem, Literatura Comparada e Património Comum entre Marrocos e Portugal.
Yana ANDREEVA
A receção da obra de José Saramago na Bulgária – tradução e estudo
RESUMO
A comunicação propõe-se apresentar o quadro da receção búlgara da obra literária de José Saramago, focando a tradução, a fortuna crítica e a presença da obra do escritor no ensino da língua, da literatura e da cultura portuguesa na Bulgária. Serão abordadas questões como o lugar que ocupam as traduções das obras de Saramago entre as traduções de autores portugueses no país; as etapas na divulgação da obra do escritor na Bulgária por meio das traduções e as suas particularidades; a fortuna crítica da obra saramaguiana, constituída pelos prefácios, estudos académicos, textos de crítica operativa em publicações periódicas; a inclusão de textos de José Saramago nos programas de estudo de cursos curriculares de Literatura Portuguesa e de Tradução Literária e em atividades académicas extracurriculares que visam potenciar a leitura e a tradução das obras do escritor.
NOTA BIOGRÁFICA
Yana Andreeva é professora catedrática da Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski. Ensina Literatura Portuguesa nos cursos de Licenciatura e Mestrado em Filologia Portuguesa, junto ao Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos da Faculdade de Filologias Clássicas e Modernas. Doutorou-se em Literatura Portuguesa Contemporânea com a tese “A escrita autobiográfica na obra de Fernando Namora”. É autora de vários livros sobre escritores e temas da literatura portuguesa, publicados na Bulgária (Discursos de identidade na obra autobiográfica de Fernando Namora, 2007; Leituras da literatura portuguesa, 2010; Escritor e sociedade nos diários de escritores portugueses de finais do século XX, 2011; Leituras da migração, 2017), do estudo Portugal segundo a Bulgária, publicado em Portugal em 2020, de numerosos artigos e prefácios, organizadora de três antologias da Literatura Portuguesa e vários volumes coletivos, orientadora de teses de mestrado e doutoramento em Literatura Portuguesa Contemporânea. Atualmente dirige o Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos e a Cátedra José Saramago nesta universidade.
Burghard BALTRUSCH
José Saramago e a tradução cultural transiberista
RESUMO
Na obra literária saramaguiana, a Jangada de Pedra talvez seja a expressão mais clara daquilo que o Prémio Nobel de 1998 entendeu como iberismo e trans-ibericidade. Mas, para além da ficção, Saramago também nos deixou numerosos textos e entrevistas nos quais reflectiu sobre as relações intra- e extra-ibéricas. Esta comunicação propõe-se apresentar o pensamento saramaguiano sobre o potencial de interacção actual das culturas e nacionalidades ibéricas, seja no contexto europeu ou intercontinental, desde uma perspectiva hermenêutico-tradutológica. A afirmação de Saramago, de que “todos somos tradutores”, junto com o seu persistente e muito político esforço para conseguir uma compreensão recíproca entre os povos ibéricos, permite-nos analisá-lo hoje como um autor que praticou uma (auto)tradução hermenêutica, não só para ser compreendido pelas outras culturas ibero-românicas, mas também para que estas se possam traduzir num contexto cada vez mais globalizado. Era um tradutor cultural e político que, apesar de ser crítico do conceito de utopia, perseguia a utopia de uma solidariedade intra- e transibérica, capaz de preservar as identidades diferenciadas e que, além disso, chamou a nossa atenção para a necessidade da tradução política e cultural.
NOTA BIOGRÁFICA
Burghard Baltrusch dirige a I Cátedra Internacional José Saramago, coordena o grupo de investigação BiFeGa e o Programa de Doutoramento Interuniversitário em Estudos Literários na Universidade de Vigo. É membro colaborador do grupo Intermedialidades do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa da Universidade do Porto. A sua investigação centra-se nas obras de Fernando Pessoa e José Saramago, a poesia actual e a teoria da tradução. É investigador principal do projecto “Poesía actual y política II: conflicto social y dialogismos poéticos”, financiado pelo Ministerio de Ciencia, Innovación y Universidades do Governo de Espanha (POEPOLIT II, PID2019-105709RB-I00, 2020-2023). Foi presidente da Asociación Internacional de Estudos Galegos, coordenou e organizou vários congressos internacionais. Entre outros livros, publicou ou (co-)editou Bewußtsein und Erzählungen der Moderne im Werk Fernando Pessoas (Peter Lang, 1997), Kritisches Lexikon der Romanischen Gegenwartsliteraturen (5 vols., G. Narr-Verlag, 1999), Non-Lyric Discourses in Contemporary Poetry (Peter Lang, 2012), Lupe Gómez: libre e estranxeira – Estudos e traducións (Frank & Timme, 2013), “O que transformou o mundo é a necessidade e não a utopia” – Estudos sobre utopia e ficção em José Saramago (Frank & Timme, 2014), Poesia e Política na Actualidade – Aproximações teóricas e práticas (Afrontamento, 2021). Mais publicações em https://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch.
Adriana CIAMA e Simina POPA
A cara romena de José Saramago
RESUMO
A comunicação tem como objetivo apresentar a receção da obra literária de José Saramago na Roménia, desde as traduções realizadas até aos estudos críticos e literários. Sem dúvida, José Saramago é o autor português mais traduzido na Roménia e os seus livros foram reeditados várias vezes. Desde 1988, quando foi publicada a primeira tradução do romance Memorial do convento, até 2022, quando foi dada à estampa uma antologia dos poemas saramaguianos escritos até à década de oitenta, foi traduzida para romeno a maioria da obra do escritor português (romances, poemas e diários), graças ao trabalho das principais tradutoras, Mioara Caragea e Simina Popa. O interesse prende-se também com o processo tradutivo em si – em particular, com algumas das principais dificuldades com as quais se confronta o tradutor – e com a política editorial que a obra de Saramago seguiu na Roménia.
NOTAS BIOGRÁFICAS
Simina Popa é tradutora de literatura de língua portuguesa desde 2007 e coordenadora de projetos culturais. É membro da Associação Romena dos Tradutores Literários, fazendo parte presentemente do conselho de direção. Tem tido a oportunidade de traduzir obras de ficção, ensaio e poesia de autores como José Saramago, Gonçalo M. Tavares, Mia Couto, José Eduardo Agualusa e Machado de Assis.
Adriana Ciama é professora associada de língua portuguesa na Faculdade de Línguas e Literaturas Estrangeiras da Universidade de Bucareste desde 2002. Doutorada em Filologia pela Universidade de Bucareste e em Estudos Portugueses, Brasileiros e da África Lusófona pela Universidade Paris 8 (em cotutela, 2010). Domínios de interesse: semântica, morfossintaxe, lexicologia, tradutologia, ensino de PLE. Membro da Société de Linguistique Romane, da Associação Internacional de Linguística do Português e do Centro de Linguística Comparada e Cognitivismo da Universidade de Bucareste.
Iliyana CHALAKOVA
Memória e cultura na estreia búlgara de José Saramago
RESUMO
A memória perpassa, desde o “átrio” do título até ao braço estendido da tradução, todo o corpo do romance O Memorial do Convento, que se tornou, em 1989, a estreia do nobelista português de literatura no espaço cultural da Bulgária. A comunicação propõe-se identificar e sistematizar, classificar e interpretar os conteúdos culturais que se relacionam com o conceito da memória no romance. O principal objetivo é observar a maneira como a memória do passado faz uso dos conteúdos culturais para conseguir a arquitetura do romance e como, de seguida, esses conteúdos são aproveitados para a construção da noção da cultura portuguesa na Bulgária. O trabalho analítico visa ainda comentar as opções feitas e os procedimentos aplicados no processo da transferência cultural para o búlgaro no caso dos conteúdos culturais identificados. Sem esquecer as três edições da tradução búlgara do romance nas três décadas até hoje, a comunicação comenta também os textos que acompanham o lançamento e a apresentação posterior da obra perante o público búlgaro, assim como a receção entre leitores gerais e teorizadores da literatura. O estudo usa instrumentos tanto da teoria do romance, como das conceções das tranferênciais culturais por meio da tradução.
NOTA BIOGRÁFICA
Iliyana Chalakova é doutorada em Literatura Portuguesa dos séculos XVIII a XX. É mestre em Tradução e Redação pela Universidade de Sófia e mestre em Estudos sobre as Mulheres pela Universidade Nova de Lisboa. Foi ainda bolseira do Instituto Camões para um Curso Anual de Língua e Culturas Portuguesas na Universidade de Lisboa. Presentemente é professora auxiliar da Licenciatura em Filologia Portuguesa no Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos na Universidade de Sófia onde leciona língua e tradução. Tem interesses teóricos na área do género e do código corporal na literatura portuguesa, das literaturas africanas de expressão portuguesa, das literaturas das “periferias” lusófonas, das abordagens contemporâneas do Romantismo e do Modernismo Português, assim como das transferências culturais por meio da tradução. É autora do livro A Presença de Facto – O Corpo e a Morte na Obra de Maria Teresa Horta, Hélia Correia e Inês Pedrosa (2021) e tradutora para o búlgaro de Ensaio sobre a Lucidez e O Homem Duplicado de José Saramago, entre outros.
Vesela CHERGOVA
A construção do tempo textual no romance História do cerco de Lisboa
RESUMO
O trabalho assenta nas diferentes dimensões do termo tempo, tanto linguísticas (tempo verbal, tempo adjunto, tempo disvursivo), como extralinguísticas (psicológica, cronológica, filosófica, quântica), para passar a focar na forma como José Saramago constroi a narrativa do seu romance História do cerco de Lisboa num tempo discursivo multifacetado. A fábula flui entre uma linha de acontecimentos históricos, i.e. um plano de inatualidade temporal, e outra linha que é a história moderna da vida e dos amores de uma personagem, i.e. um plano de atualidade temporal, com os quais constantemente interfere o plano da intervenção do narrador que apresenta uma espécie de plano da atemporalidade. Tal interferência entre planos temporais é conseguida através de um malabarismo com todos os aspetos da noção de temporalidade.
NOTA BIOGRÁFICA
Vesela Chergova é Doutora em Ciências da Linguagem, área de conhecimento de Linguística Portuguesa, pela Universidade de Sófia Sv. Kliment Ohridski e Professora Associada no Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos nesta universidade onde leciona disciplinas curriculares de teoria aplicada, entre as quais Fonética e Fonologia, Morfologia, Lexicologia e Fraseologia, Dialetologia do Português. É investigadora e autora de artigos científicos e de duas monografias sobre o sistema modo-temporal do português contemporâneo.
Ana Ille HORVAT
A receção da obra saramaguiana e da literatura portuguesa na Croácia
RESUMO
O público literário na Croácia mostrou desde sempre grande interesse pelos escritores portugueses. A melhor prova disso são as obras traduzidas dos autores mais destacados na história da literatura portuguesa como Luís Vaz de Camões e Fernando Pessoa. Embora Portugal seja considerado o país dos poetas, o interesse pelas obras em prosa começou a crescer no ano 1998 quando o grande escritor português do século XX, José Saramago, recebeu o Prémio Nobel. A importância e valor da obra de José Saramago na prosa contemporânea europeia provêm do entretenimento do seu estilo específico, léxico exuberante e áreas temáticas perfeitamente desenvolvidas. Até hoje as suas obras são traduzidas em mais de 30 línguas. Na Croácia, o respeito pela escrita e estilo saramaguiano reflecte-se nos 7 romances traduzidos na língua croata e muitos artigos científicos publicados sobre vários aspectos da sua escrita. O mundo literário de José Saramago é um mundo fantástico entrelaçado com a realidade histórica, expresso por uma língua singular que serve como utensílio poderoso na interpretação da viagem da vida. Os personagens do mundo saramaguiano são os companheiros perfeitos para o leitor croata na sua viagem literária. A herança literária de José Saramago ainda hoje representa uma fonte inesgotável para investigações literárias futuras.
NOTA BIOGRÁFICA
No ano de 2005, Ana Ille Horvat termina o Curso de Língua e Literatura Espanhola e Etnologia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas em Zagreb. Em 2006 acabou o Curso Livre de Língua e Literatura Portuguesa, em Zagreb. No ano 2009 começou o Curso de Doutoramento de Literatura, Arte, Cultura e Filme, em Zagreb. Desde 2009 que trabalha como leitora de língua portuguesa na Cátedra da Língua e Literatura Portuguesa, na Faculdade de Ciênciais Sociais e Humanas de Zagreb. Entre outras, tem as seguintes publicações: 1. „Apokaliptična svakidašnjica na rubu društva“ (“O Cotidiano Apocalíptico na Margem de Sociedade”), [SIC]: Časopis za kulturu, književnost i književno prevođenje (2), http://www.sic-journal.org/, 2/2016; 2. ”O Realismo Mágico nos Romances de Valter Hugo Mãe”// V Edição das Jornadas de Língua Portuguesa e Culturas da Europa Central e de Leste, zbornik radova; 3.„Dehumanizacija “na kraju svijeta”“(“A Desumanização “em outra parte do mundo””), [SIC]: Časopis za kulturu, književnost i književno prevođenje, (12), http://www.sic-journal.org/, 12/2020; 4. „O princípio de alteridade na procura do sentido da vida”, u:Studia Romanica et Anglica Zagrabiensia, br. 66, Zagreb, 2022.
Miguel KOLEFF
Diccionario de personajes saramaguianos
RESUMO
En mi breve exposición, voy a hablar de la recepción de los estudios Saramaguianos en la Argentina poniendo el acento en el trabajo realizado por la Cátedra Libre José Saramago (Universidad Nacional de Córdoba) destacando la elaboración y posterior publicación del Diccionario de Personajes Saramaguianos, obra que ha posicionado nuestro trabajo en el ámbito académico internacional. A través de un elemental sumario del sistema clasificatorio, haré consideraciones generales sobre la construcción de los «acepciones» (verbetes) ejemplificando con un caso particular. El Diccionario –dispositivo especialmente pensado para los investigadores de la obra saramaguiana- funciona como un claro subsidio para el desarrollo programático de cualquier abordaje que quiera hacerse de la ficción del autor portugués, Premio Nobel de 1998. La intervención concluye enfatizando este uso peculiar y especialísimo de cara a un análisis concreto, el de la novela As intermitências da morte [Las intermitencias de la muerte] en un curso administrado en la Argentina.
NOTA BIOGRÁFICA
Miguel Alberto Koleff trabaja en el campo de las Literaturas afro-luso-brasileñas en la Facultad de Lenguas de la Universidad Nacional de Córdoba donde cumple tareas de docencia, investigación y extensión, tanto en el grado como en el posgrado. Es Profesor Responsable de la Cátedra Libre José Saramago en la misma Facultad y autor de varias publicaciones, entre las que se destacan La caverna de José Saramago: una imagen dialéctica (EDUCC, 2013), Vence también a los leones. Blog de Literaturas Lusófonas (Ferreyra Editor, 2015), El perro de las lágrimas y otros ensayos de literaturas lusófonas (Ferreyra Editor, 2017) y La supervivencia de las luciérnagas y otros ensayos de literaturas lusófonas (Ferreyra Editor, 2020) al lado de numerosos papers académicos. Escribe regularmente en la «Columna de Literaturas Lusófonas» del diario Hoy día Córdoba, de circulación local. Es director argentino de la Revista de Estudos Saramaguianos con sede en Brasil. Hasta 2021 fue Director de la Maestría de Lenguajes e Interculturalidad de la Facultad de Lenguas (UNC).
Aldinida MEDEIROS
O refinamento da ironia na outra história do cerco de Lisboa: a metaficção historiográfica de José Saramago
RESUMO
Ao escrever História do Cerco de Lisboa, José Saramago acrescenta um Não e cria uma versão alternativa para a História. O objetivo desta comunicação é analisar este romance a partir de estudos sobre a ironia, buscando destacar aspectos dessa categoria na composição da narrativa e tendo em consideração o papel crítico do narrador na reconstrução os acontecimentos historiográficos. A partir do ponto de vista de História do Cerco de Lisboa como uma metaficção historiográfica, constatamos que, por meio crítico, o discurso histórico e a visão historiográfica são contestados e ressignificados. Respaldamo-nos, para tal, em estudos de Linda Hutcheon (1989 e 1991); Carlos Reis (1988), Fátima Marinho (1999), dentre outros.
NOTA BIOGRÁFICA
Professora Associada no Departamento de Letras do Centro de Humanidades da Universidade Estadual da Paraíba. Professora Permanente e Orientadora no Programa de Pós-graduação em Literatura e Interculturalidade (PPGLI) desta mesma instituição. Realizou Pós doutorado na Universidade de Coimbra (2015), e atualmente é Pesquisadora no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA) da Universidade de Nova de Lisboa. Coordena o Grupo Interdisciplinar de Estudos Literários Lusófonos (GIELLus) cadastrado no DGP/CNPq. Defendeu tese sobre o romance inesiano. É autora de vários artigos sobre literatura portuguesa e do livro Mulheres no Romance Histórico Contemporâneo Português. Atua nas linhas de pesquisa Literatura, História e Memória; Literatura e Estudos de Gênero; Estudos socioculturais pela Literatura; Releituras em prosa do período medieval.
Antonio Augusto NERY
Diálogo entre Eça e Saramago sobre Jesus
RESUMO
Ao publicar O Evangelho segundo Jesus Cristo, em 1991, José Saramago tornou-se mais um dos escritores da Literatura Portuguesa que revisitou a figura de Jesus e questões circunscritas a ela. Nesse sentido, dentre as diversas narrativas ficcionais que antecederam a obra de Saramago, sem dúvidas, A relíquia (1887), de Eça de Queirós, é uma das mais emblemáticas. O objetivo nesta intervenção é apresentar algumas percepções iniciais da leitura comparada das duas ficções, tendo em vista os usos que ambos os autores fizeram de informações e passagens retiradas da Bíblia, as quais, direta e indiretamente remetem à Jesus. Considerando que nos dois casos a revisitação do texto bíblico foi desenvolvida, sobretudo, a partir da paródia, a fim de averiguar similitudes e diferenças na utilização desse recurso estilístico, terei como balizas teóricas referências bibliográficas sobre a Intertextualidade e a Paródia, especialmente as proposições de Linda Hutcheon contidas na obra Uma teoria da Paródia.
NOTA BIOGRÁFICA
Antonio Augusto Nery é Professor de Literatura Portuguesa na Universidade Federal do Paraná e integrante da Cátedra Camões I.C José Saramago dessa mesma instituição. É Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo e Pós-doutor em Literatura Portuguesa pelas Universidades de Coimbra, do Minho e de Campinas. Bolsista de Produtividade do CNPq, seus interesses de pesquisa centram-se nos seguintes temas: Eça de Queirós; José Saramago; Literatura Portuguesa do século XIX à Contemporaneidade; Literatura e Religião. Dentre suas publicações mais recentes encontram-se a organização do livro Diálogos com a Literatura Portuguesa (2020) e os capítulos de livros A Freira no subterrâneo, uma tradução de Camilo Castelo Branco (2020) e Deus e o Diabo estão de acordo em querer o que a mulher quer: as personagens femininas em Don Giovanni ou o dissoluto absolvido (2021).
Pedro Fernandes de Oliveira NETO
A recepção de José Saramago no Brasil, algum contributo
RESUMO
A história da recepção e presença da obra de José Saramago no Brasil ainda espera ser escrita. O que se apresenta nesta intervenção é algum contributo para essa cara tarefa alguma vez enfrentada por outros pesquisadores (vide Rendeiro, 2011; Santos, 2019; Brizotto e Zinani, 2014). Os postulados norteadores são os de uma sociologia dos hábitos literários, ou ainda, os de uma descrição sócio-histórica sobre a consolidação da obra e de um escritor na economia simbólica de um país. Impossível alcançar todas as vias possíveis dessa história, esta peça se concentra no instante designado como chegada, um período que cobre entre os anos imediatamente anteriores ao da publicação do primeiro livro do escritor português entre os leitores brasileiros, finais da década de 1970, e os anos do seu estabelecimento, delimitados como a partir de 1988, quando sua obra é adquirida por um importante grupo editorial e ganha presença expressiva neste país. Esta leitura prioriza como fonte o jornal impresso circulante nas duas cidades que sempre funcionaram como portas de entrada para os materiais culturais de fora do Brasil: São Paulo, onde está situada a primeira casa editorial da obra saramaguiana, e Rio de Janeiro. Dos dois lugares, dois veículos dos mais consolidados constituem o arquivo: O Estado e Folha de São Paulo; e o Jornal do Brasil e O Globo, respectivamente. O que se apresenta nesta ocasião, portanto, é a entrada de uma história ou uma maneira de iniciar a contar uma história à espera de ser contada.
NOTA BIOGRÁFICA
Pedro Fernandes de Oliveira Neto é Professor de Literatura na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Possui doutorado em Estudos da Linguagem/ Literatura Comparada pela mesma instituição; e mestrado em Letras pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). É autor de Retratos para a construção do feminino na prosa de José Saramago (Editora Appris, 2012). Associado à Cátedra Internacional José Saramago da Universidade de Vigo. Coordena o grupo de pesquisa Estudos Sobre o Romance e a Coleção de Estudos Saramaguianos (para a qual organizou e publicou Peças para um ensaio, com estudos acerca de Ensaio sobre a cegueira, Editora Moinhos, 2020). Dirige com Miguel Koleff a Revista de Estudos Saramaguianos e com César Kiraly a Revista 7faces.
Ferenc PÁL
Notas de um tradutor de Saramago: teoria, prática e experiências
RESUMO
Como se pode ler na monografia de Beatriz Berrini Ler Saramago: “O Romance, os romances do escritor português, especialmente as suas metaficções historiográficas, apresentam ao leitor ‘implícito’ uma tarefa difícil se ele ou ela tiver de os compreender e interpretar na sua totalidade”. A tarefa do tradutor é ainda mais difícil se ele (ou ela) quiser traduzir fielmente e ainda assim de forma legível os romances de Saramago para a sua língua materna: ele deve interpretar as várias referências e alusões de modo a que o leitor médio não se assuste, mas o leitor ‘iniciado’ possa perceber a riqueza do texto de Saramago, a totalidade das suas alusões e referências. Na minha apresentação, gostaria de resumir as minhas experiências como redator de vários romances de Saramago e como tradutor de dez romances.
NOTA BIOGRÁFICA
Realizou estudos de húngaro, russo e espanhol na Universidade ELTE de Budapeste. A partir de 1978 trabalhou no Departamento de Português desta Universidade. Colaborou na organização dos estudos portugueses e brasileiros, e dedicou-se ao ensino da literatura portuguesa, brasileira e dos PALOP. Trabalhou como tradutor literário. Traduziu muitos contos e romances de Eça de Queirós, José Saramago, António Lobo Antunes, Mário de Andrade e o Livro do Desassossego de Fernando Pessoa. Escreveu monografias de Eça de Queirós e de José Saramago, publicou a obra de Fernando Pessoa em húngaro. Assistiu ao Congresso Internacional “Almeida Garrett um romântico, um moderno” (1999), ao “IV Encontro Internacional de Queirosianos” (2000) e aos IX e X Congressos da AIL (2008, 2011) e várias conferências brasileiras e portuguesas nos anos 2000. Durante mais de vinte anos foi diretor do Departamento de Português. Atualmente é professor emérito e responsável pelo Centro Brasileiro da ELTE.
Juliana FONTES e Luan PAZ
José Saramago e suas obras pelo mundo: elementos presentes na tradução de Giovanni Pontiero
RESUMO
O presente estudo terá como foco principal uma análise rebuscada acerca da tradução realizada por Giovanni Pontiero da obra Ensaio Sobre a Cegueira ([1995] 2009) de José Saramago, tendo em vista as estratégias adotadas por estes tanto na criação quanto na tradução de modo a se aproximar de seus leitores, principalmente naquelas adotadas nas traduções no tocante às transposições adotadas por Pontiero. A metodologia para a consolidação do estudo parte de autores que contribuem para a discussão acerca da temática, entre os quais Munday (2001), Scott (1998) e Sereno (2005). E ao final, conclui-se que foi um ponto de suma importância o trabalho de tradutor exercido por Pontiero, tendo em vista que este contribuiu para uma maior ampliação das obras de Saramago em diversos locais além da terra de origem do romancista.
NOTAS BIOGRÁFICAS
Juliana Fontes é Graduanda em História pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, ainda que possua pesquisas sobre História Cultural, Didática e Ensino de História e História das Religiões.
Luan Paz é Graduando em História pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, possui pesquisas sobre Didática e Ensino de História, História do Brasil e História Local/Regional.
Mark SABINE
José Saramago: “autor ativista” na época da celebridade literária mundial ?
RESUMO
Esta comunicação incide sobre a relação entre a obra literária, e a imagem pública de Saramago no cenário internacional, tanto em vésperas de, como após a atribuição do Prémio Nobel. Por outras palavras, propõe examinar os meios pelos quais, na sua projeção pública nos media e por textos como os Cadernos de Lanzarote, Saramago conseguiu negociar os objetivos do marketing da(s) sua(s) editoras, bem como o desejo por parte de diversas instituições de aproveitar seu novo status de celebridade literária, mantendo Saramago, no entanto, um alto grau de independência para se posicionar em debates culturais e campanhas políticas, tanto dentro dos países e comunidades lusófonas quanto além desses.
NOTA BIOGRÁFICA
Mark Sabine é Professor Adjunto em Estudos Lusófonos na Universidade de Nottingham, Reino Unido. Autor do estudo José Saramago: History, Utopia, and the Necessity of Error (Oxford: Legenda, 2016), ele também coordenou, com Adriana Martins, a coletânea In Dialogue with Saramago: Essays in Comparative Literature (nova edição London: Splash Editions, 2021) e publicou numerosos artigos sobre a obra saramaguiana em, entre outras revistas, Journal of Romance Studies e Portuguese Literary and Cultural Studies. A sua área de estudo abrange as literaturas portuguesa e luso-africanas dos séculos XIX, XX e XXI – notavelmente, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Bernardo Honwana e al berto, bem como cinema e história cultural das comunidades lusófonas, enfocando em especial a memória e a representação do Estado Novo português e da luta anti-colonial, e questões de corporealidade, gênero e sexualidade na produção cultural.
Fernângela Diniz da SILVA
O diálogo entre artes na poesia saramaguiana
RESUMO
Romancista de notória relevância na Literatura, o escritor português José Saramago também se expressou em versos na sua bibliografia, todavia, diferente da prosa, a crítica ainda pouco destaca a fase poética do autor, composta por três livros: Os Poemas Possíveis (1966), Provavelmente Alegria (1970) e a última obra já no limiar entre o verso e a prosa, O ano de 1993 (1975). Para compreender a construção do enunciador saramaguiano, essa produção se faz muito importante, não somente por apresentar temas e figuras que seriam desenvolvidas futuramente nos romances, mas por expor, em forma de lírica, como se dá o processo do fazer poético. Isso porque existe um interesse em pensar sobre a composição do poema, do poeta e de todas as angústias que unem o sujeito e a palavra. Um dos recursos utilizados pelo escritor para falar da arte é a própria arte, trata-se de elementos que remetem à música, à pintura e à própria biblioteca do autor composta desde Miguel de Cervantes, William Shakespeare e Montaigne. A partir disso, a presente proposta de investigação se volta para análise de poemas selecionados com o objetivo de verificar, identificar e investigar os sentidos e os efeitos que o diálogo entre artes possui na poesia saramaguiana. Para tanto, nosso estudo apresenta-se com o apoio teórico da Semiótica discursiva à luz dos estudos de Greimas e Courtés (2008), Diana Luz Pessoa de Barros (2005), Denis Bertrand (2005) e José Luiz Fiorin (2008), a destacar o Percurso Gerativo de sentido, especialmente o nível discursivo que direciona o foco para a composição temático figurativa. Dessa forma, esperamos obter um olhar mais complexo acerca da elaboração poética de modo a atentar o impacto interdiscursivo nos versos saramaguianos.
NOTA BIOGRÁFICA
Fernângela Diniz da Silva é Doutoranda em Letras na área de Literatura Comparada, pela Universidade Federal do Ceará. Mestre em Letras, pela mesma instituição. Especialista em Semiótica Aplicada à Literatura e áreas afins, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Atua como pesquisadora da Literatura saramaguiana à luz da Semiótica discursiva. Graduada em Letras Português – Francês.
Bálint URBÁN
De Portugal ao mundo – a transformação dum autor português num escritor da literatura mundial. O caso de José Saramago na Hungria.
RESUMO
A tradução da vasta obra saramaguiana para a língua húngara começou nos finais dos anos oitenta, nos últimos anos que precederam o processo político da redemocratização do país, justamente uma década antes do reconhecimento mundial do autor português. Até ao momento da atribuição do Prêmio Nobel que evidentemente mudou a posição de Saramago na cena literária internacional foram já publicadas quatro romances (A Jangada de Pedra, Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis e História do Cerco de Lisboa) do autor português e este corpus traduzido até estava contando com uma certa receção crítica. No entanto, o reconhecimento internacional do prêmio literário mais prestigioso visivelmente acelerou não só a publicação das traduções, mas trouxe também um aprofundamento notával da reflexão crítica geral. Na minha palestra partindo paralelamente da história da receção húngara da obra saramaguiana e da teorização mais recente acerca do conceito do World Literature (Damrosch, Moretti, D’Haen, Medeiros, Müller) pretendo demonstrar como é que depois do Prêmio Nobel José Saramago começa a transformar-se num autor exemplar da literatura mundial na Hungria, e como é que acaba por ser canonizado e reconhecido muito mais como um escritor eminente da circulação global das obras literárias do que um escritor português.
NOTA BIOGRÁFICA
Bálint Urbán (1984) possui mestrado em Literatura Portuguesa, Teoria de Artes e Metodologia de Ensino da Universidade Loránd Eötvös (ELTE) de Budapeste. Entre as suas publicações encontram-se estudos sobre literatura, teoria literária, filosofia e cultura em inglês, português, húngaro e espanhol. Obteve o seu doutorado em literatura portuguesa contemporânea na referida instituição académica em 2016. Desde 2009 lecciona em várias universidades húngaras sobretudo literatura e cultura portuguesa, brasileira, e teoria e prática de tradução. Enquanto tradutor traduziu para húngaro obras de Al Berto, Herberto Helder, João Tordo, Gonçalo M. Tavares, Mário Cláudio, Oswald de Andrade, Clarice Lispector, Márcio-André e vários outros autores lusófonos, filósofos franceses, alemães e americanos. Entre 2013 e 2017 trabalhou como assistente cultural no Instituto Camões de Budapeste. Co-editor da revista Versum, dedicada á poesia contemporânea e da série de literatura mundial da Editora da Associção dos Escritores Húngaros. Entre 2017 e 2019 trabalhava como professor visitante na Universidade Estadual do Ceará, dando aulas sobre literatura, história e cultura da Hungria e da Europa Central. Desde 2019 é professor auxiliar, e desde 2021 professor adjunto do Departamento de Português da Universidade Eötvös Loránd de Budapeste. O seu livro intitulado «Enterrar El-Rei Sebastião: A Reinterpretação e a Reescrita do Mito de D. Sebastião na Ficção Pós-25 de Abril» foi publicado em 2019 pela EdUECE. Compilou e editou uma antologia de dramaturgia portuguesa contemporânea e uma antologia de poesia contemporânea de autores húngaros em português.
Matheus Silva VIEIRA
De Lisboa ao Sertão: nos limiares do entrecruzamento da história e da ficção em História do cerco de Lisboa e Grande Sertão: Veredas
RESUMO
Quais os limites entre história e ficção? Em História do cerco de Lisboa (1989), José Saramago problematiza as visões da história sobre as realidades por ela observada, uma vez que a história, bem como as suas discutíveis interpretações sobre o passado, seria construída no diálogo entre três autoridades: “Fulano diz que Beltrano disse que de Cicrano ouviu” (Saramago, 1989, p. 34). Afinal, tudo o que se diz sobre o passado seria uma recuperação de informações, às vezes parcial e arbitrária, e não a sua representação fiel. Segundo Paul Ricoeur (2010), um discurso sobre o passado é sempre mediado pela narratividade, uma vez que o historiador não pode penetrar completamente nas brumas das efemérides pretéritas. Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas (1956), por exemplo, na tentativa de construir uma interpretação sobre o passado, percebe que no seu discurso a imaginação, a memória e o esquecimento estão imbricados de tal forma que é impossível separá-los: “Não acerto no contar porque estou remexendo o vivido alto longe […] às vezes não é fácil.” (Rosa, 2001, p. 202). Tendo em vista a problemática exposta, a presente pesquisa se propõe a analisar o entrecruzamento da história e da ficção nos supracitados romances de José Saramago e de João Guimarães Rosa, pois interpretamos que nessas obras o conceito de história e o de ficção são postos em discussão a partir de uma aproximação que poderá ser interpretada como estética e, também, como teórica. Para tanto, nosso breve trabalho estará alicerçado nos estudos de Candido (1999), Gobbi (1999), Gramsci (2014), Halbwachs (2017), Reis (1998) e Ricoeur (2010).
NOTA BIOGRÁFICA
Matheus Silva Vieira é Graduado Letras, com especial atenção para as literaturas brasileira, portuguesa e africanas de expressão portuguesa, na Universidade Federal do Ceará (Brasil), onde também concluiu o Mestrado em Literatura Comparada. Atualmente, é doutorando em Textos, Tradições e Cultura do Livro. Estudos Italianos e Romances, na Escola Superior Meridional, na Universidade de Nápoles “Federico II”.
Karolina VÁLOVÁ
A recepção da obra saramaguiana na República Checa
RESUMO
A novela Caim (2009), a última obra do escritor português José Saramago, é um livro muito legível, ligeiramente polémico, humorístico e sobretudo filosófico. Representa um final interessante do extenso trabalho deste intelectual de esquerda e ateu “profissional” que teve uma paixão por novas perspectivas sobre a história e a sua reescrita. A história do Caim saramaguiano começa e termina com o diálogo de Caim com Deus, que na maioria das vezes toma a forma de uma acusação monológica. O Deus-criador não é apenas culpado de cumplicidade no assassinato de Abel, mas é responsável por todos os atos humanos. Caim admite que na verdade matou seu irmão com raiva porque não podia matar Deus. Desgostoso com as provações desnecessárias que afligem a humanidade, Caim tenta confrontar o Todo-Poderoso mais uma vez durante o Dilúvio do Mundo. No ambiente checo, também temos um exemplo de diálogo semelhante no conto A Lenda de Caim de Bohumil Hrabal do livro Morytáty a legendy (1968). Nessa obra encontramos um retrato do Deus-Pai-Criador, que cruelmente expulsou as primeiras pessoas do paraíso e que rejeitou injustamente o sacrifício de Caim. Ele não tratou bem a Jesus se não o salvou da morte. De acordo com Caim de Hrabal, este Deus se levanta com toda a indiferença à humanidade: ele é “surdo”, enquanto o sujeito “surdamente” falava com Jesus e ele ia com a mesma surdez ao seu Pai. É um exemplo de uma completa falha de comunicação, o que implica a total solidão do sujeito em sua busca por respostas às questões da vida. No entanto, devido a problemas existenciais, não há solução metafísica para ele.
NOTA BIOGRÁFICA
Karolina Válová, Ph.D. trabalha na Faculdade de Letras da Universidade Carolina em Praga, onde lecciona disciplinas de literatura portuguesa e de teoria literária. Em 2018 defendeu a dissertação “A transformação da casa (uma análise de casa nos romances portugueses do século XX)” que mapeou a conceptualização, representação e sobretudo as metamorfoses do espaço doméstico. É fundadora do projecto “100 František / Jorge Listopad” e colaboradora do projeto internacional Portugueses de Papel. Atualmente dedica-se ao tema do “silêncio” na literatura feminina portuguesa.